quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma igreja para os que sofrem



"o pior dos nossos problemas é que ninguém tem nada haver com eles." (mario quintana)



Permitam-me chamá-la de Raquel. Ela chegou em nossa igreja no fim de uma reunião de oração pedindo para conversar comigo. Não era a primeira vez que Raquel ia a nossa igreja pedir ajuda, pelo menos três vezes ela batera em nossa porta buscando abrigo e alguma coisa para alimentar seus três filhos. Sua visita mais uma vez foi para pedir ajuda, mas dessa vez ela trazia uma informação nova. Estava com os braços escoriados, brigara pela defesa de algo. Ela me disse que naquela tarde o dono de uma palafita rm que morava pediu de volta sem que se importasse se ela tinha ou não lugar para ir. Na defesa de seu lar Raquel não foi apenas agredida fisicamente, mas, também, moralmente. com medo do que viesse a acontecer e sem saber onde pedir ajudar naquele instante, Raquel perambulou pelo bairro até que se lembrou de nossa igreja. Eu estava terminando a reunião de oração quando a vi entrar, ainda tímida, dentro da igreja, veio pedir uma oração...

Os olhos de Raquel eram de uma pessoa vencida, seu olhar triste ainda fala comigo até hoje, ela se dizia com medo de que poderia acontecer com ela no futuro. No outro dia ela iria ao conselho tutelar pedir abrigo para ela e seus filhos. Orei com ela e ofereci alguma ajuda. No fim da conversa ela me olhou e disse "o senhor é o único amigo que tenho, foi o único que me tratou bem, ainda bem que posso contar com a igreja." essas palavras ecoam em minha cabeça e me fazem pensar sobre o que fez Raquel se valer da igreja naquele momento de crise. A busca de amizade, a necessidade de ser tratada com igualdade e ainda a necessidade de confiar na igreja fazem de nossa responsabilidade maior do que qualquer instituição na face da terra por uma única coisa: representamos Cristo nesse mundo.

A história de Raquel é uma entre tantas histórias que não aparecem nos jornais e não dão “ibope” a novelas. O dia-a-dia de exclusão e pobreza leva milhões de pessoas a situação de não pessoas; gente sem rosto e sem nome em busca de abrigo e que encontram em seu caminho a sociedade mais consumista e egoísta que já pisou essa terra. no entanto o que mais me chama a atenção é o que essas pessoas ainda esperam algo da Igreja. Em meio a tanta dor os excluídos buscavam Cristo e esta buscar tinha uma razão de ser: Cristo se compadecia delas porque estavam aflitas como ovelhas sem pastor... os olhos de amor de Cristo os atraía. Com Ele os que sofrem encontravam abraços e acolhimento e não julgamento e nem explicações sociológicas que de retóricas não ajudam em nada. Com a ascensão de Cristo cabe essa responsabilidade a igreja, enquanto esteve aqui Cristo disse "eu sou a LUZ", quando estava pronto para ir embora ele disse "vocês são a LUZ", indicando que o chamado da Igreja é fazer é dar continuidade aquilo que Cristo fazia e isso, inclui o acolhimento e o abrigo aos que choram.  Como igreja não temos o direito de decepcionar essas pessoas porque fazendo isso decepcionamos o próprio Cristo!

O século XXI nos tornou uma Igreja também consumista e egoísta, nossas programações podem falar de nosso umbigo com invejável maestria. Acontece que os que sofrem ainda vão procurar a Igreja em busca de  amigos, respeito e ajuda. Eles tiveram isso de Cristo, nada mais natural que recebam isso dos discípulos dele, tenhamos coragem de despir de nossas preocupações vaidosas e abraçá-los; assim, Raquel poderá voltar sempre para casa consolada.

E. Pedro Silva

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