terça-feira, 9 de agosto de 2011

O "EXISTENCIALISMO" DE ECLESIASTES


 Eclesiastes, um dos livros mais fascinantes da Bíblia é justamente um dos quais não sabemos quem foi seu autor. Reza a tradição ter sido um Salomão já velho dos seus dias farto talvez de tantas descobertas, tantos debates, tantas corridas "atrás do vento". Se Salomão ou outro, o fato é que o bojo do livro revela um existencialismo que faria uma Heidegger ou um Sartre ficar de cabelos arrepiados tamanha a capacidade de síntese dos problemas mais comuns do ser humano. Em eclesiastes não estamos diante de reis e grandes batalhas, não estamos diante de grandes milagres, pão não cai do céu em eclesiastes (ele é lançado sobre as águas). Ao contrário disso tudo, na leitura desse livro mergulhamos a uma vida percorrendo um caminho comum nessa terra, a nossa vida! 

Nossas emoções, nosso trabalho, nossas idéias e ideais são colocados cada um no seu devido lugar "com um tempo determinado". O homem é convidado a não ser ansioso extamente porque há tempo para tudo até mesmo "colher pedras e espalhar pedras". O convite aqui é de perceber a vida em todas as matizes e não apenas naquela eterna esperança de tudo melhorar, abraçando ou deixando de abraçar, matando ou curando, buscando ou perdendo, a vida passa aos nossos olhos, e saber lidar com essas situações é o que nos faz viver. O autor de eclesiastes concordaria com um outro gênio, João Guimarães Rosa quando este diz que "aprender a viver é que é o viver mesmo".

O autor, no entanto, não para na tentativa de fazer o homem valorizar pequenos instantes, mas ainda propõe a este homem um enfrentamento com o que o enche de vaidade.

O fracasso do secularismo, da sabedoria, da busca do prazer, do consumismo se descortinam em nossos olhos e ficamos assombrados com sua conclusão dessas catedrais onde nos julgamos seguros: É correr atrás do vento! Para uma sociedade hedonista e firmada pela cultura da juventude eterna, o Livro fala de um fato que temos de encarar, o homem envelhece e ainda, que o homem morre! Pobres e ricos, sábios e tolos se encontram aqui nessa encruzilhada da existencia, dirá o autor do livro.

Então, para que serve esse livro? Apenas pra concordar com a canção que diz que "o verbo é sofrer"? Acredito que não e estou de saída para concordar com o autor Michael A. Eaton que num comentário sobre o Livro de Eclesiastes pontua que o livro "defende a vida de fé num Deus generoso, enfatizando o horror de outra alternativa".Sim, Deus aparece no livro como soberano, "tudo o que faz dura eternamente" (3.14) em profundo contraste com a obra humana, esta  podendo ser caracterizada como falível, terrana e passageira. Uma vida sem sentido parece ser a tônica de nossa sociedade, um vazio não traduzível em palavras é o que tantas vezes nos resta, então eclesiastes nos diz corajosamente que isso acontece quando batemos na porta errada. Daí o convite final a que aproveitemos o dia, que cada um deles seja unico, eles não voltam, mas nos lembremos de Deus, pois sem Ele a vida simplesmente escorre pelas mãos.

E. Pedro Silva

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